Reflexão

Redescobrindo Sua Força Interior: Um Convite à Renovação

“Estamos de tal modo habituados à natureza aparentemente racional do nosso mundo que dificilmente podemos imaginar que nos aconteça alguma coisa impossível de ser explicada pelo senso comum”. Jung

Esta reflexão nos convida a considerar a riqueza que existe além daquilo que sabemos sobre nossas vidas e a olhar para o que o inconsciente nos apresenta.

É uma forma de explorar caminhos que estão além do alcance da consciência.

Quebrando Padrões Limitantes

Quem nunca se sentiu empacado em relação a algo?
Ou viu repetir em sua vida os mesmos conflitos?
A via racional costuma surgir como forma para se resolver tais questões. Você usa aquilo que sabe sobre si e junta com o que enxerga da situação para buscar uma solução.
Mas será que existe algo que você desconhece sobre si mesmo e que poderia lhe ser útil?
É possível que exista algo além daquilo que você está enxergando?

Quando o caminho habitual não funciona, é essencial considerar se abrir para aquilo que vai além de onde a vista alcança.

Joshua Sortino

Mas por que se abrir ao que desconhece sobre si?

Se a rota escolhida não te leva ao ponto que almeja, vale considerar alternativas.

Sem achar uma saída através da “rota segura” é provável que, aos poucos, surjam por exemplo, a angústia, ansiedade e até mesmo o desespero, sentimentos que acarretam agitação interna a ponto de tornar ainda mais difícil vislumbrar uma solução.
Visto que somos donos de nossas escolhas, é possível se manter nessa posição, porém, é importante considerar o custo para sustentar essa decisão. Os sentimentos indesejáveis, apesar de poderem ser manejados, quando não os são se intensificam e geralmente causam prejuízos em nossas vidas.
Cabe avaliar qual a sua disposição para seguir adiante em diferentes caminhos.

Lançar luz a essa sua parte desconhecida ativa, que influencia suas reações e sentimentos, leva à consciência aspectos que estavam encobertos. Aquilo que antes você considerava como incompreensível ou impossível de fazer diferente, se torna então uma possibilidade.
Ou seja, há um ganho de recursos e ferramentas para enfrentar situações que te desafiem.

Naturalmente, você acaba se fortalecendo internamente, pois passa a se conhecer sob um ângulo a mais. Sua visão de si mesmo se amplia e torna-se mais apurada, menos limitante e com isso você pode identificar aquilo que restringe seus potenciais com mais destreza.
Ou seja, você aprende a se cuidar e a se proteger mais adequadamente, atendendo as suas reais necessidades.

Explorando Novas Perspectivas

Todd Quackenbush

Para se chegar lá é importante:

Cultivar a capacidade para se abrir
Este é o primeiro passo para a expansão da consciência ter chance de acontecer. É como se, ao agir de maneira mais receptiva você desbloqueasse uma porta que te permite acessar novos horizontes. Esta abertura se manifesta em múltiplas dimensões:

  • Na disposição para experienciar o processo psicoterapêutico, descobrindo camadas mais profundas de si mesmo;
  • Na receptividade às livres movimentações do inconsciente, permitindo que símbolos e intuições emerjam;
  • Na aceitação entorno daquilo que descobriu e daquilo que está por vir, cultivando a curiosidade e coragem.

Sem esta abertura fundamental, você permanece preso em padrões limitantes, retido nos contornos que se impõe sem nem perceber.

Desapegar do resultado
Não há como saber de antemão o que descobrirá acerca de si mesmo. Ao olhar demais para o que deseja atingir, você perde tudo aquilo que a experiência do aqui-agora proporciona:

  • Que a psicoterapia se desenrole de maneira orgânica e autêntica;
  • Que questões subjacentes, aquelas que são desconhecidas no início da análise, surjam naturalmente, pois isso traz profundidade à experiência.
  • Que mudanças psicológicas duradouras aconteçam, pois elas ocorrem gradualmente, através de pequenas revelações e ajustes ao longo do tempo.

Estar presente integralmente em cada um desses momentos permite uma transformação mais sustentável. Portanto, é necessário confiar em sua capacidade de aprender sobre si progressivamente, experimentando o trajeto trecho a trecho.

Estar disposto a aprender uma nova forma de comunicação
Para se comunicar conscientemente com seu eu desconhecido é necessário compreender a linguagem que seu inconsciente utiliza. Essa linguagem é subjetiva e simbólica. Também terá características próprias, condizentes com a sua história no mundo. E, à medida que você se aproxima e exercita essa nova forma de se relacionar consigo mesmo, fortalece também sua capacidade de comunicação com o mundo e com as pessoas.

Ou seja, você acaba por facilitar o próprio caminho para construir respostas inovadoras e saudáveis acerca dos desafios que naturalmente se apresentam a você de tempos em tempos.

Cada passo dado nesta jornada de autodescoberta é um movimento de retorno à sua essência. Ao redescobrir sua força interior, você desperta recursos que sempre estiveram lá, mas adormecidos sob camadas de condicionamentos e defesas. Este processo de renovação, contudo, está intimamente ligado ao aprendizado da linguagem simbólica do inconsciente – é um meio para acessar as dimensões mais profundas de seu ser.

Entendendo a Linguagem Simbólica do Inconsciente

Dou um exemplo: Os sonhos nos ajudam a obter novas visões sobre quem somos. “São elementos de comunicação do inconsciente na dialética do processo psicológico do indivíduo” – Marion Gallbach.
É uma forma que temos para acessar o que reside no inconsciente e a despertar soluções criativas para antigas dificuldades. Porém, salvo alguns sonhos mais literais, não é tão fácil assim decifrá-los porque eles se comunicam conosco através de símbolos.
Entendendo que cada vez mais damos menos atenção ao mundo simbólico e mais valor aos hábitos concretos, entender os símbolos nos sonhos se torna uma missão complexa, pois implica se debruçar sobre aquilo que não se compreende e que ainda está por se revelar.

Zulian Firmansiah

De acordo com Jung, “As imagens produzidas nos sonhos são muito mais vigorosas e pitorescas do que os conceitos e experiências congêneres de quando estamos acordados. E um dos motivos é que, no sonho, tais conceitos podem expressar o seu sentido inconsciente. Nos nossos pensamentos conscientes restringimo-nos aos limites das afirmações racionais”.

“O símbolo e o que está nele representado têm uma conexão interna, não devem ser separados um do outro, e é nisso que o símbolo se distingue do sinal. Sinais são acordos fixados por meio de uma declaração, não possuem um excedente de significado, mas são representantes.” (…) “O símbolo é muito mais irracional, não totalmente compreensível. Ele mantém um excedente de significado, tem muito a ver com emoção, sendo por isso, objeto da história das ideias, da religião, da arte etc. ” – Verena Kast

Ou seja, para se descobrir em seu inconsciente é preciso ir além da limitante visão racional sobre si mesmo.

E como decifrar os símbolos?

Para facilitar, vamos à compreensão da palavra símbolo. Essa palavra tem sua origem do grego synballein (syn, junto + ballein, atirar), que significa a união dos opostos. Nesse caso, é possível dizer que o símbolo atua como forma a unir o conhecido com o desconhecido. É por meio dele que acessamos camadas inacessíveis no âmbito consciente.

O sonho, bastante relevante na psicoterapia junguiana, é como uma ponte que liga o inconsciente ao consciente, pois busca comunicar algo que a consciência não está abarcando. É como um mensageiro de assuntos caros ao sonhador, que busca levar aquilo que é útil considerando o momento da vida em que é apresentado.
A análise de sonhos é aberta e segue um curso próprio, de acordo com a permissão que cada pessoa se dá para tal construção. Este trabalho permite não apenas a compreensão de conteúdos desconhecidos, como também destaca a tarefa individual que se apresenta ao indivíduo e/ou uma característica de personalidade a ser assimilada.
Portanto, o sonho é um mensageiro poderoso que, através de sua linguagem simbólica, revela tanto feridas quanto potenciais.​​​​​​​​​​​​​​​​

“Se for interpretada corretamente, sinaliza o que há de mais ou de menos, o que está causando perturbações. Temos nele algo que nos aplaude se estamos na direção certa, e que nos vaia se estamos jogando para o adversário.” M. R. Gallbach

Cada pessoa produzirá seus símbolos a partir de suas vivências, experiências e desenvolvimento pessoal e é respeitada dentro destas características singulares ao longo de todo processo psicoterapêutico. Eles estão presentes não apenas em sonhos como também em muitas outras manifestações psíquicas individuais e coletivas, pois:

“Aquilo que conscientemente deixamos de ver é, quase sempre, captado pelo nosso inconsciente.” Jung

Desvendar essa linguagem oculta requer paciência e disposição para navegar pelo desconhecido. Assim como acontece com a vida, não é? Ou seja, não seria algo totalmente inédito para você…
Ao se aventurar nesse território simbólico, seja por meio da análise dos sonhos ou outras técnicas de expressão inconsciente, você abre portas para insights valiosos e é por meio do entendimento deles que se torna possível se redescobrir.

Caminhando para o Si-Mesmo

Aceitar o convite para a redescoberta e renovação traz junto o reconhecimento de uma característica humana única e preciosa: a capacidade de imaginar. Através dessa função “podemos nos reimaginarmos além do que foi possível no passado” – J. Hollis; E então, finalmente, escolher autonomamente como desejamos viver.

Jung considerava a imaginação uma força primordial da psique humana, capaz de transcender as limitações da realidade concreta e abrir caminhos para a transformação psíquica. É uma função psicológica vital que conecta consciente e inconsciente desbloqueando nossa capacidade criativa e torna possível nos libertar dos padrões repetitivos que nos restringem.

“Por meio das formações de símbolo torna-se possível o desenvolvimento criativo da personalidade.” – Verena Kast

Portanto, estar disponível à experimentação de novos cenários é parte fundamental no processo de desenvolvimento interior. Sem isso se torna bastante complexo encontrar seu próprio ser com autenticidade.

E por que isso é importante?

Sem movimento, sem abertura ao novo, é inviável aprender sobre si mesmo e a lidar de modo criativo com os próprios problemas.

“Na nossa vida consciente estamos expostos a todos os tipos de influência. As pessoas nos estimulam ou nos deprimem, ocorrências na vida profissional ou social desviam a nossa atenção. Todas essas influências podem levar-nos a caminhos opostos à nossa individualidade; e quer percebamos ou não o seu efeito, nossa consciência é perturbada e exposta, quase sem defesas, a esses incidentes.” – Jung

Richard Stachmann

O ser humano é complexo e subjetivo. Cada um tem a sua história, rica e singular, repleta de vivências, memórias, sentimentos… E é com isso tudo que, pouco a pouco, constrói seu entendimento acerca do mundo e das pessoas. Aprende formas de agir e de reagir diante de diferentes situações, considerando o que deu certo e o que não deu dentro da própria perspectiva.

É por isso que todos somos impelidos a repetir reações e comportamentos, mesmo que nos tragam certos prejuízos. O inconsciente entendeu ao longo da vida que tais movimentos foram bem-sucedidos (afinal, a vida seguiu, sob um custo desconhecido, mas seguiu) e, portanto, não há motivos para fazer nada de diferente.
Porém, em algum momento, viver padrões baseados na história pessoal e cair nos mesmos pântanos repetidamente pode cansar até mesmo os mais resistentes.

A psicoterapia junguiana oferece um espaço de acolhimento e ao mesmo tempo de possibilidades; Busca despertar nas pessoas a capacidade de abraçar a flexibilidade, fluir com os movimentos da vida e a reconhecer as poderosas forças que moldam sua existência.

Este caminho de autoconhecimento torna-se essencial justamente porque a vida sempre te apresentará oportunidades para revisitar situações mal elaboradas para que você possa repensar, imaginar, fazer novas escolhas e ampliar sua consciência.
Situações antigas mais delicadas, traumáticas, supostamente esquecidas ou pouco compreendias, mas que foram decisivas dentro do seu desenvolvimento psicológico, ressurgirão atualizadas quantas vezes forem necessárias até que você aprenda algo novo, transformando assim, desafios em oportunidades de crescimento.

Jung já dizia, “Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir a sua vida e você chamará isso de destino.”

Seja através dos sonhos, das psicossomatizações, sentimentos e comportamentos, o inconsciente se manifesta constantemente ao apontar desequilíbrio entre os polos (consciente-consciente) e que, portanto, precisam ser integrados para que seja possível uma mudança de atitude e consequente avanço psicológico. Quando há algum problema nessa ligação podem surgir os distúrbios psicológicos e é nesse estágio que muitas pessoas chegam à psicoterapia.

Por isso, busque um psicólogo para te acompanhar nessa jornada de crescimento interior, pois além de existir a necessidade de entender o momento de vida e o estado mental de cada um para estabelecer as condições do trabalho com o inconsciente, também é necessário conhecimento e ética ao tratar de questões pouco conhecidas. O manejo adequado é essencial para preservação de sua saúde integral.

A entrega e comprometimento para essa jornada de autodescoberta são investimentos vitais em sua evolução pessoal. Ao compreender melhor a si mesmo e os movimentos da sua vida, você lida melhor com as diferentes fases que nela surgem, identifica suas demandas com mais habilidade e cria espaço para que as renovações, quaisquer que sejam, possam acontecer.  

À medida que você se permite adotar novas perspectivas de si mesmo descobrirá não apenas quem você é, mas também seu potencial do vir a ser.

Urban Vintage

Entender as tarefas implícitas na vivência de estados sombrios, reconhecer seus significados e aceitar a si mesmo genuinamente dentro de suas potencialidades e fragilidades não são coisas fáceis de serem vividas, mas é parte fundamental no caminho que o aproxima do seu Eu.

Posso te assegurar que essa experiência tem um valor inestimável.

“Vencer a si próprio é a melhor das vitórias”. – Platão

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